terça-feira, 23 de outubro de 2007

"Rodopio", poema de Mário de Sá-Carneiro

Por ser belo e expressivo, e porque nas suas palavras encontro muitas vezes os meus pensamentos, aqui fica um excerto de um poema de Mário de Sá-Carneiro, num dos seus raros escritos optimistas...

Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,
Altas torres de marfim.
(...)
Zebram-se armadas de cor,
Singram cortejos de luz,
Ruem-se braços de cruz,
E um espelho reproduz,
Em treva, todo o esplendor...
(...)
Há elmos, troféus, mortalhas,
Emanações fugidias,
Referências, nostalgias,
Ruínas de melodias,
Vertigens, erros e falhas.

Há vislumbres de não-ser,
Rangem, de vago, neblinas;
Fulcram-se poços e minas,
Meandros, pauis, ravinas
Que não ouso percorrer...

Há vácuos, há bolhas d’ar,
Perfumes de longes ilhas,
Amarras, lemes e quilhas –
Tantas, tantas maravilhas
Que se não podem sonhar!...

Sem comentários: